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A mostrar mensagens de agosto, 2001

Um dia a casa vem abaixo

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Folgo em saber que começa a haver alguma sensibilidade para o problema das casas abandonadas e do êxodo de Lisboa. A semana passada, a Lisboa Abandonada foi entrevistada. Hoje, a reportagem saíu no semanário Euronotícias . Com chamada de capa e duas páginas inteiras dedicadas ao tema. :))) A jovem jornalista, Carla Pereira , fez um excelente trabalho e está de parabéns. Vale a pena ler o artigo para perceber a dimensão do problema!

Carta nunca enviada à minha Avó

Para ti, Avó, onde quer que estejas, quando mais um ano passa sobre o dia em que te despediste de nós. Carta nunca enviada à minha Avó 96.03.31 Querida Avó! No regresso a Lisboa nesta noite lacrimejante perscrutei a escuridão como quem tenta decifrar o Desconhecido. E vinha-me à memória uma frase familiar: "Hoje é o primeiro dia do resto da tua vida". No ambiente falsamente alegre há um segredo do Polichinelo guardado na sala do Barba Azul. Todos sabemos que estás sentada à espera da Morte, mas nunca se fala em tal. Só tu o referiste – muito brevemente, é certo. Diz-me, responde-me: como é a sensação de saber que nada mais resta senão a espera? Sabes que vai ser, só não sabes quando. O que sentes? Em que pensas nessas longas 24 horas diárias (poucas dedicadas ao sono) de quase total vigília? Como sentes tu o penso da Morte? Ou… a sua leveza? Preferes o silêncio, o ignorar, o tentar esquecer, ou queres falar no assunto? O que mais me magoa talvez nem seja sequer saber que vais

Ocupada..

Aos meus leitores, devo um pedido de desculpas! Há cerca de uma semana que não pu blog o nada no Esquissos! Não é por mal, nem por desinteresse e muito menos por falta de respeito para com quem me lê! É mesmo por falta de tempo... :-( A monografia que estou a escrever sobre a freguesia lisboeta de São Francisco Xavier está quase terminada mas, como se costuma dizer, "o rabo é o mais difícil de esfolar", pelo que tenho tido imenso trabalho, algum ainda de pesquisa e muito de escrita... Além disso, Agosto é tempo de férias - para alguns, pelo menos!! - pelo que no Emarketeer.net tenho tido trabalho a dobrar... De qualquer forma - e isto é uma promessa! -, a partir do início de Setembro (altura em que entrego a totalidade do original sobre São Francisco Xavier), vou escrever regularmente os meus Esquissos. Alguns deles, como já vem sendo hábito, serão repescados na gaveta dos rascunhos. Outros, sairão no momento, produto da constatação do mundo que me rodeia. Só mais umas linha

A vida não é mais que uma barcaça

Apetece-me fugir não sei do quê Apetece-me gritar, ir mais além É uma dor que queima porém A veleidade de perguntar "porquê?" Porquê eu? Porquê a dor e não a morte? Que mal fiz eu, Senhor, ao Karma meu? Queria apenas deitar-me com Morfeu, Dormir, dormir, esquecer esta má sorte. Esquecer sonhos perdidos, o passado Apagar memórias sem um só lamento Construir tudo novo no momento! Mas o desejo foi silenciado: A vida não é mais que uma barcaça Com que Lethes nos persegue e nos caça. (c) Dulce Dias – 1998-07-10

Bem-vindo de novo, Sete Colinas

Estou feliz. Estou muito feliz! Quando comecei a inserir, neste blog, os links de mais gosto, não consegui aceder a um site fantástico, sobre Lisboa, chamado Sete Colinas . Mas, hoje, em busca de livrarias e outros links interessantes, encontrei o Sete Colinas novamente a funcionar. Não sei o que se passou antes, se foi apenas um servidor que caiu, ou se foi algo mais grave... Seja como for, é com muito agrado que vejo o site novamente online Sete Colinas, sê bem-vindo!

Geografia a quatro mãos

Minhas mãos conhecem teu corpo de cor E o meu corpo abandona-se, lânguido, a essas tuas mãos A cada curva, minhas mãos deslizam seguindo a geografia do teu corpo Qual rio serpenteante entre colinas, deslizo na praia da tua pele O rio que, sedento, ansioso corre para se regozijar no mar Mas a barragem da ternura refreia-lhe a anseia da foz Barragem que, no entanto, não impede o rio de encontrar sua terceira margem... Margem feita leito, suave como porcelana e quente como lava impetuosa e húmida Lava ardente a que me rendo, e que me imortaliza qual Pompéia num instante de paixão E descansa, a lava, tranquila como as cinzas de Roma incendiada Tranquila, pois a lava sabe que me lava a alma... E a minha alma sente-se beijada no mais profundo do meu É Enquanto o vulcão adormece novamente no colo do monte de Vênus, após a explosão do êxtase O rio recolhe-se aos poucos no conforto das margens carinhosas depois de ter fertilizado o seu delta e, sábio, acaricia a mata pensando em como é ser igua

Um poema de João Guimarães Rosa

Eu queria dormir longamente... (um sono só...) Para esperar assim o divino momento que eu pressinto em que hás de ser minha. Mas... e se essa hora não devesse chegar nunca?... Se o tempo, como as cousas outras todas, te separa de mim? Então... ah!, então eu gostaria que o meu sono, friíssimo e sem sonhos (um sono só...) não tivesse mais fim...

Um poema de Paulo Bicarato

Quero apenas Minha Sherazade Só mil e uma noites E a esperança De uma noite a mais... Obrigada, Bica. (Ele sabe que eu adoro a escrita dele! ;-))

Links e outras informações

Links e outras informações Nem todos os dias tenho blogado o suficiente, em termos de prosas. No entanto, para os mais desatentos, chamo a atenção para a coluna da esquerda, a qual tenho, aos poucos, tentado enriquecer com links relacionados com os temas que este blog trata, e outros que me interessam. Assim, os leitores têm à disposição um pequeno acervo de links sobre Lisboa , Literatura Portuguesa , Música Portuguesa e Outros Temas Culturais . Para além disso, têm ainda uma secção de Blogs e Sites Pessoais que recomendo , bem como Outros sites recomendados . Haveria muitos outros sites que poderiam integrar esta lista, mas tentando mantê-la dentro dos temas atrás referidos, para já, não conto alargá-la a sites ou blogs que tratem outros assuntos. Por (de)formação profissional, acrecentei alguns sites que, saíndo da temática Lisboa/Literatura/Cultura, não posso deixar de referir. O Emarketeer.net , onde exerço funções de directora de conteúdo; a Janela na Web , com a qual mantenho

Incómodos

Há, em Lisboa, coisas que me incomodam. Coisas que não compreendo porque são assim, e porque não podem ser de outra maneira. Incomodam-me os aparelhos de ar condicionado que despejam sobre quem incautamente passa as suas grossas e desagradáveis gotas de água. Também me incomoda a canalização rota que verte nas velas calçadas portuguesas o precioso líquido, deixando um verde rasto de limos no leito que entretanto, teimoso, cava. Incomoda-me o facto de não perceber a política camarária de limpeza das ruas da cidade. Porque é que há ruas que são lavadas semanalmente e outras que têm direito apenas a uma visita anual da água? Já agora, incomoda-me que as pessoas de uns bairros sejam menos zelosas do seu bairro do que outras, contribuindo para que as ruas estejam sujas, feias e desfiguradas. Ah! Claro - já o disse aqui, mas repito-o -, incomoda-me que haja tanta casa abandonada sem gente em Lisboa. E, já agora, tanta gente abandonada sem casa!

A língua portuguesa

Estive a visitar, como habitualmente, o Gente que Faz , e deparei-me com um excelente post colocado por Miss Mossoró, sob o título Nem só de livros técnicos vive o homem de negócios . Miss Mossoró fala da fraca qualidade da escrita. Fala dos erros de ortografia e mesmo dos de sintaxe. Fala da realidade brasileira actual. Pois é!! Mas podia muito bem estar a falar de Portugal que o panorama seria o mesmo! É certo que a internet tem destas coisas! As pessoas escrevem cada vez pior. A emergência do passar a mensagem leva-nos a escrever cada vez mais rápido, a enviar o e-mail sem o rever, a es k ecer as sílabas complicadas, transformando-as noutras mais simples, a considerar - talvez sem pensar - que o importante da msg é o conteúdo e não a forma! Ora, ao longo de milénios, a forma e o conteúdo andaram de mãos dadas e está convencionado que assim seja! E como a sociedade é feita de convenções, torna-se desastroso alterá-las ad hoc . Recentemente, numa lista de discussão, falava-se sobre

Lisboa em Agosto

É Agosto, mês de férias. Eventualmente, este é um dos melhores meses para se viver em Lisboa. Quem não a ama, consome os dias em infernais filas intermináveis rumo à Costa ou ao Algarve. Quem não a ama, foge daqui a sete pés, em conjunto com todos os outros milhares de pessoas que diariamente para aqui vêm trabalhar, queixando-se do trânsito. Agora, estão todos satisfeitos na mesma fila de trânsito a caminho da mesma praia, onde vão queixar-se todos do mesmo excesso de veraneantes... Eu? Eu fico por Lisboa. Tenho-a toda só para mim! As ruas estão quase desertas, os carros são poucos, os transportes públicos estão libertos e arejados. Lisboa dá-se-me em cada Agosto. Entrega-se-me como uma amante apaixonada e sem peias. E eu retribuo-lhe em dobro o seu amor, com toda a ânsia de quem sabe que o tempo chega ao fim, que Agosto acaba e que os romances de férias têm outras formas de continuação - mas nunca se repetem! Ou talvez só no próximo Agosto!!

Enlaçar-te de carinhos como Amo esta Lisboa

Queria conhecer o teu corpo como conheço esta Lisboa, cada esquina, cada beco, cada rua, cada viela... Queria percorrer-te as linhas, acariciar-te os seios com o deleite de descer Alfama e tocar o Chafariz. Queria descobrir-te os segredos, os gemidos e os ais como desfloro recantos de uma Baixa abandonada. Queria cobrir-te de beijos como abraço a Madragoa e enlaçar-te de carinhos como Amo esta Lisboa. (c) Dulce Dias – 1998-03-20

Calcorrear Lisboa

Enquanto o Sol beija o Tejo desço a Rua do Alecrim aspirando olisipos odores. Para trás fica o Chiado, à espera que "o metro em Pessoa" se abeire da velha Brasileira. Sorvo o ar matinal - invadido de perfumes de mulheres bonitas - e sinto renascer em mim energias redobradas. Uma nova vontade invade-me - com a intensidade das cores dos prédio RECRIAdos que se me imprimem na retina – e impele-me a ir mais alto, mais forte, mais longe. Calcorrear Lisboa é ter coragem de assumir o sonho - todos os sonhos! - é acreditar que tenho direito a tudo, e ter Força para lutar por isso. Calcorrear Lisboa é saber que o mundo é maior que o pensamento, é assumir o NÃO gritado às segundas escolhas, é despir-me de preconceitos e mágoas e vestir-me de luta e de conquista. Como o Martin, eu também tenho um sonho. - E vou lutar por ele! (c) Dulce Dias – 1998-01-19

Do Tejo até Cascais

Há um Tejo a banhar-se nas margens desta Lisboa - e mesmo para lá dela. A trovoada enraiveceu este Tejo manso que se joga sobre a costa como as lavadeiras de antanho batiam as roupas nas pedras da ribeira. Lisboa e o Tejo amam-se. A forma como ele se arremessa sobre ela é a de um amante apaixonado e sequioso de amor e de amplexos de prazer. Em face de mim, um casalinho pouco mais do que adolescente transborda a sua paixão em beijos e pedidos de carinho - logo, logo satisfeitos. O sol invade este velho combóio e uma aura doce liberta-se do jovem casal. O Tejo perdeu o azul da manhã, tornou-se cinzento raiado de espuma branca, e estende se agora ao longo da Marginal, molhada, ela, da chuva de há pouco. Agitadamente, ele, vai murmurando a sua fúria em direcção à barra. O céu quis contrariá-lo. Despiu-se do seu fato cinzento-trovoada e vestiu-se de anil, também ele, no entanto, raiado de branco, do branco das nuvens que passam em fato de passeio. As palmeiras e os abetos que convivem ao lo

Quero colorir esta Lisboa

Esta noite, Lisboa adormeceu chuvosa. Mas quem a ama, sabe gostar dessas suas lágrimas que a lavam e rejuvenescem... Quero colorir esta Lisboa Quero colorir-te, Lisboa. Expressar no papel as impressões dos verdes, dos rosas, dos ocres. E dos azuis também. Quero rasgar-te de Luz beijar-te de Rio e amar-te despida em cada manhã de sábado. Percorro-te as entranhas de escadas e escadinhas muito tímidas. Perscruto-te a alma de cada água-furtada aberta sobre a Vida. As minhas mãos querem acariciar o teu corpo quente. No entanto, estás fria, enrugada, velha e gasta. Caem-te os cabelos, curvam-se-te as costas, choram-se-te as portas enferrujadas. De ti, prostituta de rosto sofrido, queria ser teu cirurgião: fazer-te um lift ou outro que tal, recuperar-te a fronte e elevar-te o sorriso - com franqueza! até uma prostituta deve ser bela! E tu és o fogo que me alimenta a alma. Acalmas-me o espírito em lojinhas de bairro. Desejas-me bons dias em gatos vadios ou lambes-me as lágrimas com teus raios